quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Resenha: Um Bom Casamento de Stephen King (Conto)



Título: Um Bom Casamento
Autor: Stephen King
Encontra-se no livroEscuridão Total Sem Estrelas
Editora: Editora Suma de Letras / Grupo Objetiva
Ano de publicação: 2010
Ano de publicação no Brasil: 2015
Número de páginas: 86
Preço: De R$29,90 até R$49,90
Paguei: R$44,90
Nota: 5/5




Darcy Anderson é uma senhora muito bem casada, tem um casal de filhos e está vivendo uma época tranquila da vida. O conto começa falando sobre como Darcy e seu marido, Bob, se conheceram e dos passos importantes do casal até o momento presente.


Bob é sócio de uma empresa e por causa disso, viaja frequentemente. Em uma dessas noites de viagens, como os filhos do casal já não moram em casa, ela decide passar a noite vendo um filme. O controle está sem pilhas e ela vai até a garagem buscar algumas novas. A garagem não é bem o lugar preferido da casa para Darce, ela raramente vai até lá, já que prefere deixar seu carro do lado de fora, mas é isso ou ficar sem o filme.


Enquanto procura as pilhas, Darce bate o pé em uma caixa que estava meio que no meio do caminho. Ela, curiosa, abre a caixa e encontra alguns catálogos. Ela é daquelas mulheres que não podem ver um catálogo que já querem comprar, e como um modo de economizar, Bob escondeu todos os catálogos e aparentemente ia jogá-los fora. Mexendo mais na caixa, ela encontra em revista de sadomasoquismo e fica horrorizada com o que vê, e fica mais horrorizada ainda quando percebe que é uma revista do seu marido.


Por motivos X, ela acaba achando uma caixinha que estava atrás da caixa. Uma caixinha que ela comprou para Bob há alguns anos, para que ele colocasse suas abotoaduras (aquele botão que fica na manga de camisa social,sabem? Abotoaduras são versões chiques desses botões), mas o que ela encontra ali dentro não é nada do dia a dia deles, ou de qualquer outra pessoa normal.


Ela encontra documentos de uma mulher que foi assassinada recentemente por Beadie, um maníaco que assassinou 11 mulheres, e aquela mulher, a dona dos documentos que Darce encontrou, era a décima primeira vítima. Beadie não era uma maníaco apenas por assassinar, mas pelo modo como ele fazia aquilo. Ele estuprava as vítimas, e todas elas foram encontradas com várias mordidas e sinais de tortura pelo corpo. Mas... o que os documentos de uma mulher que foi assassinada há pouco tempo estão fazendo escondidos numa caixa que ela dera de presente para seu querido marido há alguns anos?

"Eu não sei... Substituir a realidade pela fantasia, talvez... Mas, quando já se experimentou a coisa real, a fantasia não serve pra nada."

Darce, como muitas pessoas diante de situações traumatizantes, entrou em negação. Ela quer acreditar que conhece Bob o suficiente para saber que ele não é um assassino. Ele criou bem os dois filhos e numa a agrediu, como ele poderia ser Beadie?



Esse conto tem cenas bem pesadas, aterrorizantes, daquelas que vão fazer as pessoas mais sensíveis sentirem vontade de vomitar, literalmente. Há algumas descrições de como as vitimas foram encontradas e apesar de não serem detalhadas, é o suficiente para nos dar uma sensação de mal estar. Bob, quando volta pra casa vai conversar com Darce e ele sabe que ela descobriu assim que chega em casa e nota algumas coisas diferentes, então ele vai falando sobre cada crime, sobre sua infância e sobre um amigo que morreu quando ele ainda era adolescente.


Psicopatia nem sempre é um distúrbio mental que é percebido por qualquer um. Há muitos psicopatas que não são diagnosticados por não apresentarem perigo para a sociedade. Há vários níveis de psicopatia e em níveis leves, na maioria das vezes, ninguém fica sabendo que aquela pessoa é psicopata, por isso preste atenção em todas as pessoas que vivem à sua volta. E os psicopatas não são agressivos com todas as pessoas e muitas vezes sabem fingir demonstrar carinho e amor.

"A ideia de que tal solidariedade não seria nada além de cobertura açucarada em um bolo envenenado era loucura."

Bob é claramente um psicopata, isso fica nítido quando ele vai conversar com Darce e finge que tudo o que ele fez foi algo normal, e ainda coloca a culpa em uma outra pessoa. Em quase 3 décadas de casamento Darce não havia sido espancada, Bob nunca levantou a mão pra bater nela e foram raras as vezes em que ele gritou com ela, mesmo assim, o Bob que fazia amor com ela e abraçava e dizia amar todas as noites, era o Bob que matou e estuprou várias pessoas.


Eu achei muito assustador, aterrorizante o modo como King trabalhou isso nesse conto, é quase como se fosse real, como se estivéssemos lendo uma biografia. Eu sei que o medo que a Darce passou foi real, que ela não soube o que fazer, que ela queria fazer uma certa coisa, mas tinha medo de acabar morrendo depois. É um horror palpável, eu me senti sendo a Darce, eu senti aquele horror todo que ela estava sentindo e em quase todos os momentos eu pensei como ela pensou. Não vou dizer que eu tomaria a mesma decisão final dela, por que eu não sou o tipo de pessoa que teria coragem, mas eu com toda certeza faria alguma coisa.


É um conto que eu recomendo muitíssimo e gostaria muito de depois procurar uma resenha de um homem e ver qual é a opinião dele sobre isso. Creio que os homens vão levar isso mais pro lado racional, afinal a parcela de homens que podem passar por uma situação dessas é bem menor do que a parcela de mulheres que passam por isso. O medo de ser considerada cúmplice mesmo quando você nem sabe direito o que está acontecendo.



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